O
doloroso processo histórico da educação das pessoas com surdez faz com que a
escola comum enfrente um grande desafio em suas práticas de ensino e
aprendizagem. Conforme Damázio (2005), antes do final da Idade Média, as
pessoas com surdez eram consideradas não humanas e incapazes de gerenciar seus
atos, a partir daí é que surgiram os primeiros pronunciamentos sobre a
instrução para as pessoas com surdez e que elas foram vistas como capazes de
aprender a ler e escrever. Desde então muitas foram as tentativas de educação
escolar para as pessoas com surdez.
“Sabemos que a nova
política de educação no Brasil vem tecendo fios direcionais que possibilitam
superar uma visão centrada de homem, sociedade, cultura e linguagem de forma
fragmentária (...) muitas propostas, principalmente no espaço escolar, precisam
ser revistas e algumas tomadas de posição e bases epistemológicas precisam
ficar mais claras, para que, realmente as práticas de ensino e aprendizagem na
escola comum pública e também privada apresentem caminhos consistentes e
produtivos para a educação de pessoas com surdez.” (DAMÁZIO E FERREIRA, 2010,
p.47)
Conforme
Damázio, Alves e Ferreira (2010) historicamente a educação das pessoas com
surdez ficou fundamentada em três abordagens diferentes: a oralista, a
comunicação total e a abordagem por meio do bilinguismo, sendo esta última,
segundo estudos, a que corresponde melhor ás necessidades do estudante com
surdez.
Em
relação ao Bilinguismo, Kosloswski (1998) coloca que dentro de uma perspectiva
bilíngue, o surdo é visto como um indivíduo diferente e não deficiente, suas
potencialidades podem ser totalmente desenvolvidas desde que seus direitos linguísticos
sejam respeitados. Nesta tendência a língua de sinais é considerada a primeira
língua da pessoa com surdez e a língua oral a segunda e a participação ativa de
adultos surdos na educação da criança surda é fundamental, ele terá a função de
transmitir a língua da comunidade surda, a língua de sinais.
Damázio
(2007) aponta que o Atendimento Educacional Especializado - AEE deve acontecer
em três momentos didático-pedagógicos: AEE em Libras, AEE de Libras e AEE da
Língua Portuguesa Escrita; e que estes três momentos são ofertados no turno
inverso à sala de aula comum e em horários diferentes.
AEE
de Libras – neste atendimento a pessoa com surdez terá acesso a aprendizagem da
língua de sinais de acordo com o nível em que ela se encontra, realizado preferencialmente
por um professor com surdez, que deverá planejar os atendimentos ofertando diferentes
meios visuais para que a pessoa com surdez compreenda os significados desta
língua. É muito importante que todo o material utilizado no atendimento esteja
disponível na sala e que o professor não pratique o bimodalismo. (Damázio,
Alves e Ferreira, 2010)
AEE
em Libras – a aprendizagem neste atendimento acontece de acordo com o plano de
estudos do ano/série em que o aluno se encontra, ofertado diariamente e de
preferência por um professor com surdez, o mesmo antecipará a pessoa com surdez
todo o conteúdo que será trabalhado na sala de aula comum. O planejamento deste
atendimento deve ser realizado em parceria com o professor da sala de aula e
com utilização de diferentes materiais visuais e também materiais concretos a
fim de facilitar a aprendizagem de conceitos para a pessoa com surdez. (Damázio,
Alves e Ferreira, 2010)
AEE
para o ensino da Língua Portuguesa Escrita – o atendimento neste momento
didático-pedagógico deve ser realizado por um professor que tenha formação
específica na área, ou seja, formado em Letras e que tenha conhecimento de
todos os pressupostos linguísticos e teóricos necessários para a aprendizagem
das pessoas com surdez. O professor planejará seus atendimentos de acordo com o
estágio de aprendizagem que o aluno se encontra, o estimulando sempre a
enfrentar desafios. (Damázio, Alves e Ferreira, 2010)
Conforme
Damázio (2010), o AEE PS deve ser pensado na perspectiva de que tudo se liga a
tudo e que o ato de um professor transformar sua prática pedagógica, conectando
teoria e prática, a sala de aula comum e o AEE, numa visão complementar,
sustenta-se a base do fazer pedagógico desse atendimento, dessa forma o AEE
precisa ser pensado em redes interligadas, sem hierarquização de conteúdos, sem
dicotomizações e reducionismos, conectando o pensar e o fazer pedagógico.
Referências Bibliográficas:
DAMÁZIO, M. F. M.; FERREIRA, J. Educação Escolar de Pessoas com Surdez – Atendimento Educacional
Especializado em Construção, Revista Inclusão: Brasília: MEC, V.5, 2010. p.
46-57.
Kosloswisk, L. A
Proposta bilíngue de educação do surdo. Revista Espaço. Rio de
janeiro:INES, nº10, p.47-53, dezembro,1998.
DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Educação escolar Inclusiva das pessoas com
surdez na Escola comum:Questões polêmicas e Avanços contemporâneos. In: II
Seminário Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, 2005, Brasília. Anais...Brasília:MEC,
SEESP, 2005. P.108-121.
DAMÁZIO,
Mirlene F. M. Atendimento Educacional
Especializado. In: Pessoa com
surdez. Curitiba: CROMOS, 2007.
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