sexta-feira, 21 de março de 2014

PESSOA COM SURDEZ E O PROCESSO EDUCACIONAL

O doloroso processo histórico da educação das pessoas com surdez faz com que a escola comum enfrente um grande desafio em suas práticas de ensino e aprendizagem. Conforme Damázio (2005), antes do final da Idade Média, as pessoas com surdez eram consideradas não humanas e incapazes de gerenciar seus atos, a partir daí é que surgiram os primeiros pronunciamentos sobre a instrução para as pessoas com surdez e que elas foram vistas como capazes de aprender a ler e escrever. Desde então muitas foram as tentativas de educação escolar para as pessoas com surdez.
                          “Sabemos que a nova política de educação no Brasil vem tecendo fios direcionais que possibilitam superar uma visão centrada de homem, sociedade, cultura e linguagem de forma fragmentária (...) muitas propostas, principalmente no espaço escolar, precisam ser revistas e algumas tomadas de posição e bases epistemológicas precisam ficar mais claras, para que, realmente as práticas de ensino e aprendizagem na escola comum pública e também privada apresentem caminhos consistentes e produtivos para a educação de pessoas com surdez.” (DAMÁZIO E FERREIRA, 2010, p.47)

Conforme Damázio, Alves e Ferreira (2010) historicamente a educação das pessoas com surdez ficou fundamentada em três abordagens diferentes: a oralista, a comunicação total e a abordagem por meio do bilinguismo, sendo esta última, segundo estudos, a que corresponde melhor ás necessidades do estudante com surdez.
Em relação ao Bilinguismo, Kosloswski (1998) coloca que dentro de uma perspectiva bilíngue, o surdo é visto como um indivíduo diferente e não deficiente, suas potencialidades podem ser totalmente desenvolvidas desde que seus direitos linguísticos sejam respeitados. Nesta tendência a língua de sinais é considerada a primeira língua da pessoa com surdez e a língua oral a segunda e a participação ativa de adultos surdos na educação da criança surda é fundamental, ele terá a função de transmitir a língua da comunidade surda, a língua de sinais.
Damázio (2007) aponta que o Atendimento Educacional Especializado - AEE deve acontecer em três momentos didático-pedagógicos: AEE em Libras, AEE de Libras e AEE da Língua Portuguesa Escrita; e que estes três momentos são ofertados no turno inverso à sala de aula comum e em horários diferentes.
AEE de Libras – neste atendimento a pessoa com surdez terá acesso a aprendizagem da língua de sinais de acordo com o nível em que ela se encontra, realizado preferencialmente por um professor com surdez, que deverá planejar os atendimentos ofertando diferentes meios visuais para que a pessoa com surdez compreenda os significados desta língua. É muito importante que todo o material utilizado no atendimento esteja disponível na sala e que o professor não pratique o bimodalismo. (Damázio, Alves e Ferreira, 2010)
AEE em Libras – a aprendizagem neste atendimento acontece de acordo com o plano de estudos do ano/série em que o aluno se encontra, ofertado diariamente e de preferência por um professor com surdez, o mesmo antecipará a pessoa com surdez todo o conteúdo que será trabalhado na sala de aula comum. O planejamento deste atendimento deve ser realizado em parceria com o professor da sala de aula e com utilização de diferentes materiais visuais e também materiais concretos a fim de facilitar a aprendizagem de conceitos para a pessoa com surdez. (Damázio, Alves e Ferreira, 2010)
AEE para o ensino da Língua Portuguesa Escrita – o atendimento neste momento didático-pedagógico deve ser realizado por um professor que tenha formação específica na área, ou seja, formado em Letras e que tenha conhecimento de todos os pressupostos linguísticos e teóricos necessários para a aprendizagem das pessoas com surdez. O professor planejará seus atendimentos de acordo com o estágio de aprendizagem que o aluno se encontra, o estimulando sempre a enfrentar desafios. (Damázio, Alves e Ferreira, 2010)
Conforme Damázio (2010), o AEE PS deve ser pensado na perspectiva de que tudo se liga a tudo e que o ato de um professor transformar sua prática pedagógica, conectando teoria e prática, a sala de aula comum e o AEE, numa visão complementar, sustenta-se a base do fazer pedagógico desse atendimento, dessa forma o AEE precisa ser pensado em redes interligadas, sem hierarquização de conteúdos, sem dicotomizações e reducionismos, conectando o pensar e o fazer pedagógico.

  
Referências Bibliográficas:
  
DAMÁZIO, M. F. M.; FERREIRA, J. Educação Escolar de Pessoas com Surdez – Atendimento Educacional Especializado em Construção, Revista Inclusão: Brasília: MEC, V.5, 2010. p. 46-57.
  
Kosloswisk, L. A Proposta bilíngue de educação do surdo. Revista Espaço. Rio de janeiro:INES, nº10, p.47-53, dezembro,1998.
  
DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Educação escolar Inclusiva das pessoas com surdez na Escola comum:Questões polêmicas e Avanços contemporâneos. In: II Seminário Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, 2005, Brasília. Anais...Brasília:MEC, SEESP, 2005. P.108-121.
  
DAMÁZIO, Mirlene F. M. Atendimento Educacional Especializado. In: Pessoa com surdez. Curitiba: CROMOS, 2007.